sexta-feira, 7 de agosto de 2020

COMO FICA A ALFABETIZAÇÃO NESSA PANDEMIA?

ENTREVISTA 03

Hoje trago para vocês a entrevista com a professora Laura Corrêa, que atua em uma escola da zona rural de Gravataí/RS, para cujos estudantes o impacto do isolamento social é diferente do causado à maioria dos estudantes da cidade.

Ce: Qual o seu nome*, escola* e ano para o qual leciona:
Laura: Laura Jane Corrêa , leciono na EMEF Costa do Ipiranga  para o 1º ano  do Ensino Fundamental

Ce: Qual o perfil dos estudantes da turma?
Laura: Os alunos são  moradores da zona rural ,  todos dentro da faixa etária,  a turma  na maioria são  participativa , interessada, comunicativa. 

Ce: Você já conhecia os estudantes antes do início deste ano?
Laura: Não, os alunos  estudavam no Pré  em turno contrário ao que leciono.

Ce: Fale um pouco sobre sua metodologia de ensino à distância:
Laura: Na verdade estou reinventando e testando melhores forma de comunicação com os alunos e seus familiares, a escola formou grupos no WhatsAppp  e estava  encaminhando algumas atividades para os alunos realizar e mandar fotos por esse aplicativo, os vídeos eram mesmo só com instruções da atividades , pois gastavam muitos dados móveis e a internet é restrita.  Quando o município iniciou as aulas remotas e preferencialmente  as atividades  seriam entregues impressas.   Procuro encaminhar atividades  lúdicas , mas também de alfabetização  em folhas impressa de forma que a família possa ajudar. Muitas atividades de recortar, colar, montar, aproveitar o que tenham em casa.

Ce: Se sua turma possui perfis muito distintos (crianças que já chegaram alfabetizadas, semi alfabetizadas e não alfabetizadas), como você lida com essa diversidade cognitiva?
Laura: É bem complicado e me angustia muito toda vez que vou a escola entregar as atividades para os pais, olho aquelas folhas e tento imaginar o que se passou naquelas cabecinhas na hora de resolver as atividades, me angustia porque já eram pra maioria estar lendo.  Sempre pergunto aos pais se tiveram dificuldade? Se conseguiram fazer com facilidade? Se gostaram? Se estão lendo alguma coisa? Conforme o que me respondem eu levo sempre uma ou duas atividades com novas letras e conteúdos para os que já estão silábicos.

Ce: Você consegue perceber, à distância, quais habilidades se destacam em cada estudante?
Laura: Muitas vezes sim no retorno das atividades , nos vídeos e fotos que eles nos encaminham. Mas como em toda turma tem aqueles que não participam muito e não estão nem aí, e infelizmente não podem contar nem com a ajuda da família. 

Ce: Você considera viável focar no que cada criança tem mais aptidão? Por quê?
Laura: Seria muito viável se fosse possível  focar em cada criança individualmente 100%, mas infelizmente  por mais que tentamos ainda  não é possível, podemos dar atenção individual , explicar  diferente , mas trabalhar coma aptidão de cada um acho  que a educação no Brasil ainda tem que percorrer muito chão.

Ce: Quais são os seus critérios de avaliação cognitiva no contexto atual?
Laura: Na verdade ainda não tenho um critério de avaliação  definida para este contexto, por enquanto  estou avaliando as famílias que ajudam, o que elas estão fazendo pra contribuir  com a alfabetização de seus filhos, avalio o capricho das atividades, o interesse com que eles realizam . Tem atividade que volta com a letra da mãe ou de irmãos , porque não tem paciência de ensinar.

Ce: Você consegue perceber nos estudantes, neste contexto, o desejo de aprender a ler? Fale um pouco mais sobre isso.
Laura: Em alguns  sim, pelos relatos dos pais e através dos vídeos que eles mandam. No início de julho realizamos uma gincana  julina e havia várias provas que os alunos deveriam realizar e mandar os vídeos e fotos. E a alegria que muitos apareciam em estar realizando  as provas  é sinal de: Quero mais!

Ce: Você conta com o apoio dos pais neste desafio de ensinar à distância?
Laura: Como em toda escola sempre tem aqueles pais que se preocupam realmente com a educação dos filhos.  E  sim eu tenho pais que ajudam a alfabetizar, são os pais dos alunos  silábicos .

Ce: O que você sabe sobre o desenvolvimento emocional dos seus alunos?
Laura: Tirando aqueles que só pensam em estudar e  aprender a ler, e que estão ansiosos para voltar pra escola, conforme relatos dos pais estão bem, tranqüilos e brincam bastante. É a vantagem de morar na zona rural , tem tanta coisa pra fazer e brincar. Sem dizer que não sentem falta de sair e passear, a maioria não tem essa rotina.

Ce: Você consegue perceber, à distância, se seus alunos estão emocionalmente prontos para as atividades propostas?
Laura: Prontos  apenas a minoria.  Nem eu estou pronta pra mandar as atividades, fico um tempão pensando o que mandar? Como mandar? Será que vão gostar? Faço várias atividades e depois troco várias vezes. E quando está tudo pronto ainda fico na dúvida. 

Ce: Você já participou de algum treinamento sobre múltiplas inteligências ou inteligência emocional? Gostaria de aprender mais sobre isso?
Laura: Ainda não participei , acho que seria interessante .  Aprender  é sempre bom .

Ce: Você se sente cobrada/pressionada pela gestão da sua escola em relação aos resultados dos estudantes?
Laura: Não, pelos resultados  não, mas nos cobram bastante sobre o que estamos encaminhando para os alunos. Não me sinto pressionada em nenhum momento.

Ce: Você se sente cobrada/pressionada pelas famílias em relação ao seu trabalho?
Laura: Até agora  não.  Espero que isso não aconteça. 

Ce: Você sente algum tipo de medo ou desconforto em relação ao seu trabalho?
Laura: No contexto atual sinto um desconforto sim. Por não poder ajudar e fazer o meu trabalho cara-a-cara  com os alunos, faz muita falta a atenção, o carinho ,  o turbilhão de emoções  que as crianças provocam.

Ce: Que aprendizado você está tendo com essa experiência de educar à distância?
Laura: Estou com turma de 1° ano  apenas 2 anos.  Antes de lecionar para o 1º ano sempre tive medo da alfabetização, porque este é o alicerce , a estrutura da vida escolar de uma criança, e a responsabilidade é muito grande.  E este ano  estou aprendendo  que alfabetizar  exige muita dedicação e que é necessário o contato e amor . nosso amor para com eles e vice-versa. 

(* resposta opcional)


Quero agradecer a participação da professora Laura neste trabalho sobre a alfabetização em meio à pandemia.

Uma grande abraço!

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