COMO ALFABETIZAR NESSA PANDEMIA?
ENTREVISTA 07
Olá!
Trago para vocês a entrevista que fiz com uma professora que leciona para uma turma de 2º ano composta por crianças que foram suas alunas no ano passado e portanto já havia de certa forma uma continuidade no trabalho quando o distanciamento social começou.
Ce: Qual o seu nome*, escola* e ano para o qual leciona:
LP: Meu nome é Luciana Peres, sou professora na rede Pública de Gravataí, na E. M. E. F. Parque dos Eucaliptos.
Ce: Qual o perfil dos estudantes da turma?
LP: As turmas em que leciono são bem cheias...em uma turma tenho 25 alunos e na outra tenho 22, num total de 47 alunos, são turmas bem heterogêneas , com realidades desiguais, tenho alunos com uma boa situação financeira e uma estrutura familiar mais sólida que demonstram um crescimento constante em sua Alfabetização, estes alunos conseguem acompanhar o andamento das aulas e o desenvolvimento dos conteúdos com facilidade, e em alguns casos superam as expectativas, indo além do solicitado.
No entanto, tenho um outro grupo de alunos que são em torno de 50%, que são oriundos de famílias mais humildes, muitas vezes os pais são analfabetos, geralmente possuem muitos irmãos , moram em casas muito pequenas e vivem de forma bem simples, sem acesso a livros, jornais, revistas e meios tecnológicos, internet e assim por diante.
E tem uma outra parcela de alunos que seriam os “medianos”, estes conseguem acompanhar as aulas com certa facilidade.
Ce: Você já conhecia os estudantes antes do início deste ano?
LP: Sim, eu já conhecia os estudantes antes do início deste ano, pois eles foram meus alunos no ano passado na 1° série.
Ce: Fale um pouco sobre sua metodologia de ensino à distância:
LP: A minha metodologia de ensino à distância na verdade está sendo construída desde Abril deste ano, aos poucos, quando neste mês decidi por conta própria iniciar um contato com os pais e responsáveis dos meus alunos via watts, através do grupo que havíamos criado no início do ano letivo de 2020, e assim foi...
Dei continuidade ao que eu tinha iniciado presencialmente com os estudantes, mesmo sabendo que não alcançaria todos os alunos, comecei a enviar atividades para os meus alunos via watts, com o auxílio e ajuda dos pais seguimos assim até o dia 15 de maio, e deu certo, foi uma boa experiência, aprendemos juntos, valeu a pena.
Logo em seguida se organizou então através da Secretaria de Educação e da Prefeitura, formas de enviar atividades impressas aos alunos, quinzenalmente, e agora procuro planejar conforme orientações recebidas da equipe diretiva da escola, onde observamos a BNCC, a oferta de todas as disciplinas e também o cuidado de não enviar atividades que tragam muitas dificuldades de entendimento, tanto para os alunos quanto também para os pais, que é quem está auxiliando o aluno diretamente neste momento de Pandemia.
Também tenho me colocado sempre à disposição dos responsáveis para auxiliá-los quanto as dúvidas que surgem, sem limite de horário ou dia...E assim estamos, sempre aprendendo juntos.
Ce: Se sua turma possui perfis muito distintos (crianças que já chegaram alfabetizadas, semi alfabetizadas e não alfabetizadas), como você lida com essa diversidade cognitiva?
LP: Sim, minhas turmas possuem perfis de alunos muito distintos, crianças que já chegaram alfabetizadas, outras semi alfabetizadas e ainda as não alfabetizadas, para lidar com esta diversidade cognitiva procuro ofertar atividades diferenciadas, com “níveis de dificuldades” que contemplem as necessidades de cada aluno, mas não deixo de ofertar para” todos” as atividades referentes a série que estamos,” cobrando” sempre mais empenho e dedicação daqueles alunos com dificuldades.
Ce: Você consegue perceber, à distância, quais habilidades se destacam em cada estudante?
LP: Sim, eu consigo perceber, mesmo à distância, quais habilidades se destacam em cada estudante das minhas turmas, mas isso só é possível no meu ponto de vista, e no meu caso porque eu fui a professora deles no ano passado, então sei bem onde cada um conseguiu chegar na passagem do 1°ano para o 2°ano, o crescimento deles durante um ano todo juntos eu pude acompanhar de perto, faz a diferença, mas acho que não conseguiria se não os conhecesse, percebo esta dificuldade através de alunos novos que recebi este ano ...e não os conheço...suas habilidades, suas possibilidades, suas capacidades e seus conhecimentos já adquiridos, vai ser mais difícil avaliá-los com certeza, e sei que existem muitos professores passando por esta situação, mas estamos aí para aprender e tenho certeza que tudo dará certo no final.
Ce: Você considera viável focar no que cada criança tem mais aptidão? Por quê?
LP: Neste momento de Pandemia e de educação à distância eu não considero viável o professor “focar” no que cada criança tem mais aptidão, porque isso dificultaria muito mais um planejamento que está sendo feito todo à distância de uma forma tão incomum, sem um acompanhamento mais significativo da aprendizagem do educando.
Tem também aquele professor que teve muito pouco tempo para conhecer o aluno, impossibilitando assim de reconhecer qual é a aptidão de cada aluno.
Ce: Quais são os seus critérios de avaliação cognitiva no contexto atual?
LP: Os meus critérios de avaliação cognitiva neste contexto atual que estamos passando de distanciamento social, estão sendo bem menos rígidos em comparação que seriam se eu pudesse ministrar as aulas presencialmente, neste momento procuro levar em consideração também as mais variadas dificuldades que as famílias estão passando.
Ce: Você consegue perceber nos estudantes, neste contexto, o desejo de aprender a ler? Fale um pouco mais sobre isso.
LP: Sim, mesmo neste novo contexto, estou conseguindo perceber nos estudantes o desejo de aprender a ler e escrever, observei também que os pais estão começando a se acostumar com estas “novas obrigações”, referente aos estudos dos filhos, o que nos proporciona um melhor rendimento dos alunos.
Ce: Você conta com o apoio dos pais neste desafio de ensinar à distância?
LP: Sim, eu tenho contado com o apoio dos pais neste desafio de ensinar à distância, ainda infelizmente não é um apoio de 100% como seria o ideal mais é a grande maioria que está se empenhando e dando o seu melhor para que todos nós tenhamos êxito nesta nova jornada.
Ce: O que você sabe sobre o desenvolvimento emocional dos seus alunos?
LP: Bom, quanto ao desenvolvimento emocional dos meus alunos é muito difícil dizer que eu possa saber muita coisa...como eles passando e se sentindo...já que o vínculo que tínhamos nas aulas presenciais, está agora mais “fraco”, digamos assim...
Eu trabalho com crianças muito pequenas e estes são totalmente dependentes de seus familiares, eles não possuem um celular somente deles para que possamos manter um “canal” de conversa sempre aberto e só nosso, tanto eu, como eles, “dependemos” dos seus pais, do tempo que os pais tem, da boa vontade e disposição dos pais em “dispor” os seus celulares à seus filhos em detrimento da escola.
Ce: Você consegue perceber, à distância, se seus alunos estão emocionalmente prontos para as atividades propostas?
LP: Não, eu não consigo perceber com a mesma certeza que eu teria no presencial, se todos os meus alunos estão “emocionalmente prontos” para as atividades propostas, por isso procuro “facilitar” e exemplificar ao máximo tudo que é enviado a eles, sabemos pela vivência e experiência que em uma turma de 25 alunos, nunca todos serão iguais, ou estarão no mesmo nível cognitivo de aprendizagem, assim, esta questão não chega a ser uma novidade para os educadores, já estamos acostumados a trabalhar em turmas heterogêneas, e sempre procuramos oferecer aos alunos atividades diferenciadas as quais eles já estejam mais preparados ou prontos emocionalmente.
Ce: Você já participou de algum treinamento sobre múltiplas inteligências ou inteligência emocional? Gostaria de aprender mais sobre isso?
LP: Não, eu nunca passei por um “Treinamento” sobre múltiplas inteligências ou inteligência emocional, mas com certeza gostaria muito de aprender mais sobre isso, já fiz algumas leituras a este respeito, pois são assuntos que sempre devemos estar nos atualizando.
Ce: Você se sente cobrada/pressionada pela gestão da sua escola em relação aos resultados dos estudantes?
LP: Não, eu não me sinto “cobrada” ou “pressionada” pela gestão da minha escola em relação aos resultados dos estudantes, ao contrário, estamos sempre conversando via watts ou nos reunindo virtualmente no intuito de aprendermos juntos a fazer o que será o melhor para os nossos alunos neste momento.
Ce: Você se sente cobrada/pressionada pelas famílias em relação ao seu trabalho?
LP: Não, eu não me sinto cobrada/pressionada pelas famílias em relação ao meu trabalho, sinto sim, uma união em torno da aprendizagem dos estudantes e o empenho de todos, conforme as possibilidades de cada um.
Ce: Você sente algum tipo de medo ou desconforto em relação ao seu trabalho?
LP: Sim, neste momento tão diferente que estamos passando, eu sinto medo de não estar fazendo o melhor, tenho medo que meus alunos não consigam progredir, crescer, produzir cognitivamente e medo que eles sintam-se desinteressados pelos estudos.
Ce: Que aprendizado você está tendo com essa experiência de educar à distância?
LP: Eu estou aprendendo muito com essa experiência de educar à distância, primeiro aprendi que é muito, muito “difícil” ...educar à distância é muito limitante, parece que falta alguma coisa...e com certeza é a “interação” com o aluno, o olho no olho, o chegar perto, o observar, poder explicar várias vezes a mesma coisa e por vários dias, poder conversar e saber se ele conseguiu entender ou não...Aprendi que o carinho e o afeto que temos juntos no dia-a-dia faz toda a diferença e faz muita falta.
(* resposta opcional)
Quero agradecer a participação da professora Luciana neste trabalho sobre a alfabetização em meio à pandemia.
Uma grande abraço!
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