terça-feira, 11 de agosto de 2020

ALFABETIZAR NA PANDEMIA

ENTREVISTA 04


Olá!

FELIZ DIA DO ESTUDANTE A TODOS AQUELES QUE TÊM SEDE DO SABER!

Nesta quarta entrevista, conversei com uma professora cujo trabalho eu admiro bastante e que me pede sigilo de seu nome.

Ce: Qual o seu nome*, escola* e ano para o qual leciona:
E4: Prefiro sigilo, 3° ano da rede pública municipal de Gravataí.

Ce: Qual o perfil dos estudantes da turma?
E4: Alunos de 8 e 9 anos. A maioria já era aluno da escola e muitos fizeram o pré na escola. Uma inclusão e dois em investigação. Turma muito afetiva, com vinculo de amizades, turma curiosa, falante, cooperativa e participativa e as famílias também. Em torno de 7 que ainda estão na transição da fase silábica para a silábica alfabética e com dificuldades, neste caso se enquadra a inclusão.

Ce: Você já conhecia os estudantes antes do início deste ano?
E4: Sim, quase toda a turma já havia sido minha no ano de pré e alguns terminaram o ano na fase silábicos e silábicos alfabéticos.

Ce: Fale um pouco sobre sua metodologia de ensino à distância:
E4: Desde o início do isolamento, estava enviando atividades pelo grupo da turma, ou entregando atividades impressas para quem não tinha acesso, (por minha conta, para não perder o processo que estávamos em andamento e o vínculo com eles). Depois por determinação da mantenedora, começamos a enviar atividades de acordo com as orientações. No meu caso, começamos a focar bem nas revisões de conteúdo do ano anterior, sempre procurei enviar atividades de acordo com o grupo e com o que queria atingir, focava em enviar algo a mais e que os fizessem pensar, raciocínio lógico. E preparo atividades diferenciadas, mas com o mesmo conteúdo para os alunos em níveis diferentes, tentando buscar a evolução de cada um, dentro da sua diversidade em aprender.

Ce: Se sua turma possui perfis muito distintos (crianças que já chegaram alfabetizadas, semi alfabetizadas e não alfabetizadas), como você lida com essa diversidade cognitiva?
E4: Em sala, procurava manter o mesmo conteúdo de forma diversificada para todos, busco sempre a partir de jogos e da ludicidade atingir o objetivo de aprendizagem com os alunos.
No isolamento, tento planejar atividades que contemplem as habilidades a serem trabalhadas de diferentes formas, e para os diferentes níveis que tenho dentro da turma, procuro criar e montar jogos que as famílias podem auxilia-los e até mesmo participar de forma ativa no ensino-aprendizado deles. 

Ce: Você consegue perceber, à distância, quais habilidades se destacam em cada estudante?
E4: Na grande maioria sim, pois as famílias são bem participativas, procuro diariamente estar em contato com elas, e peço que sempre me relatem quais dificuldades estão encontrando e em qual conteúdo mais especifico, procuro orienta-las como trabalhar tal situação e tranquiliza-las, pois noto muita angustia na maioria, por não conseguir ajudar os filhos.

Ce: Você considera viável focar no que cada criança tem mais aptidão? Por quê?
E4: Sim, e tentar trabalhar dentro daquilo que se tenha mais aptidão o restante. Exemplo seria buscar trabalhar com uma criança que se sai muito bem em matemática e tem dificuldades na leitura, um jogo que incentive ela a ler de forma lúdica, trabalhando a matemática que ela gosta e se sai bem.

Ce: Quais são os seus critérios de avaliação cognitiva no contexto atual?
E4: Como já mencionei procuro estar em contato com as famílias para uma melhor avaliação, claro que não consigo isso com todos, pois nesse atual momento tudo ficou mais difícil, porém conheço meus alunos e sei do que são capazes e o quanto conseguem evoluir de acordo com o conteúdo trabalhado. 

Ce: Você consegue perceber nos estudantes, neste contexto, o desejo de aprender a ler? Fale um pouco mais sobre isso.
E4: Na maioria sim, outros já não consigo ter esse contato e retorno adequado, procuro mandar sempre no grupo da turma e para alguns no privado, diferentes gêneros para leitura, desde gibis a literaturas mais apropriadas para cada um, e recebo alguns retornos encantadores, de áudios deles lendo e pedindo mais livros.

Ce: Você conta com o apoio dos pais neste desafio de ensinar à distância?
E4: Da maioria da turma sim, alguns me contatam no privado pedindo auxilio em determinadas situações e de como proceder, se estão certos, como melhorar.

Ce: O que você sabe sobre o desenvolvimento emocional dos seus alunos?
E4: De alguns consigo ter mais noção e discernimento, mas os relatos da grande maioria é que está cada vez mais difícil lidar com isso tudo dentro dos lares.

Ce: Você consegue perceber, à distância, se seus alunos estão emocionalmente prontos para as atividades propostas?
E4: Acredito que pronto ninguém está, estamos nos adaptando e tentando resolver tudo da melhor forma possível, alguns conseguem ter uma resiliência melhor e mais rápida que outros e isso que devemos levar em consideração na hora de planejar a distância, principalmente o fato que não seremos nós a conduzir a proposta e ter esse olhar diferenciado para cada aluno.

Ce: Você já participou de algum treinamento sobre múltiplas inteligências ou inteligência emocional? Gostaria de aprender mais sobre isso?
E4: Li muito pouco sobre o assunto, e gostaria sim de aprender mais.

Ce: Você se sente cobrada/pressionada pela gestão da sua escola em relação aos resultados dos estudantes?
E4: Não me sinto cobrada pela gestão, visto que tenho uma equipe muito boa, que está sempre disposta a ajudar e tirar minhas dúvidas, que conhece meus alunos e suas famílias, ficando assim, mais próxima da minha realidade dentro da turma.

Ce: Você se sente cobrada/pressionada pelas famílias em relação ao seu trabalho?
E4: Nenhum pouco, tenho famílias maravilhosas comigo, que apoiam meu trabalho e pegam junto comigo nas minhas “loucuras” como digo, sempre que proponho algo diferente e ousado tenho elas me ajudando e incentivando. Essa cobrança eu carrego sobre mim, me cobro muito em tentar atingir o mínimo possível.

Ce: Você sente algum tipo de medo ou desconforto em relação ao seu trabalho?
E4: Na nossa profissão o medo acho que é constante né, tenho medo de não conseguir ajudar meus alunos, de não poder estar perto deles, quando precisarem, de deixar passar algo simples, mas que faria grande diferença na vida e aprendizado dele, e por ai vai...

Ce: Que aprendizado você está tendo com essa experiência de educar à distância?
E4: Muitos, o principal e acho que eu já considerava essencial é a ajuda da família no teu trabalho, as ferramentas digitais, que estou sendo obrigada a aprender a usar e depois quem sabe usar dentro de sala de aula, o nosso próprio aperfeiçoamento, sair da nossa zona de conforto e buscar cada vez mais oportunidades de ajudar nossos alunos.

(* resposta opcional)

Quero agradecer a participação da professora neste trabalho sobre a alfabetização em meio à pandemia.

Uma grande abraço!

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